quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Nas salinas de Castro Marim!

A poucos quilometros de Espanha, entre Vila Real de Santo António e Castro Marim encontram-se algumas, das várias dezenas de salinas outrora ali existentes, na região!

E eu, acompanhada da minha melhor amiga de há décadas (e também comadre!) tivemos o privilégio de fazer a visita guiada à salina Barquinha, acompanhadas do senhor Pedro, pertencentes à sua família, há várias gerações!


A perfeição da forma dos cristais de sal!

E ali, pudemos compreender todo o processo da recolha do sal e da importante flor de sal, feito de modo manual, antes do relaxamento- flutuação nas piscinas com elevada salinidade e secagem ao sol com aplicação de argila no corpo! Uma experiência deveras, verdadeiramente divertida!





Num território localizado estrategicamente no percurso marítimo do mar Mediterrâneo, com fortes marés, baixa humidade, vento adequado e longos períodos sem chuvas não é de estranhar o sucesso da arte da salinicultura em Castro Marim!

A região foi ocupada por vários povos, incluindo os fenícios que utilizavam a salga em tanques nas conservas de peixe! Posteriormente, ocupada pelos gregos e depois pelos romanos, Baesuris (como se chamava anteriormente Castro Marim) tornou-se um importante entreposto comercial desde o século VII a.C!

Os romanos teriam aí introduzido o reticulado da esquadria das salinas para a optimização da produção de sal, este muito valioso! Tão valioso que chegou a servir de moeda dos exércitos (a palavra "salário" advém dai) e uma das principais exportações do país, séculos mais tarde, tendo até servido para financiar os descobrimentos marítimos!




O processo inicial começa em Maio, quando os tanques começam a ser preparados ao lhes tirarem a água e o excesso de lama mas demora ainda mês e meio até ser recolhida a primeira produção de sal!

Todos caminhos e os fundos dos tanques são de argila, para permitir que a água fique retida e que os cristais de sais não sejam absorvidos pelo solo.

A água vinda do rio Guadiana, com uma concentração de sal de 5 a 10 g/l passa para o primeiro "viveiro", onde permanece cinco a seis dias, até a sua concentração duplicar.




Nesse primeiro "viveiro" têm de ser ainda retirados todas as algas, essas utilizadas posteriormente como fertilizantes!




Todos os tanques estão ligados entre si por tubos, funcionando por gravidade. Depois a água do primeiro passa para um segundo "viveiro" onde permanece por mais cinco dias e a sua concentração de sais duplica para 40-50 g/l e depois para um terceiro "viveiro" onde atinge os 100 gramas por litro.

Passa, então, para as designadas "caldeiras" onde duplica para os 200 gramas por litro e antes de passar para os "talhos" (eu chamar-lhe-ia "piscinas"), entram nos corredores de água circundantes designados como "travadores"!




Estes "talhos" com as dimensões de três metros de largura por seis metros de comprimento e 20 centímetros de altura têm o tamanho ideal para permitirem que o trabalho da recolha de sal seja feito pela mão humana e não por máquinas (os cristais por serem extremamente aguçados poderiam cortar pés e pernas)!

Nesta empresa (Água-mãe), trabalham três salineiros fixos mas são contratados mais seis no verão!

De cada "talho" é retirada uma média de uma tonelada a tonelada e meia de sal, o que perfaz num ano uma produção de 450 toneladas. Normalmente, são retiradas duas a três vezes por ano (este ano foi feito nos finais de Julho e finais de Agosto)!


Diferentes tonalidades como a cor salmão, amarelo ou rosado podem estar presentes, de acordo com a concentração de sal marinho no fundo, pois funciona como um filtro de luz. A tonalidade básica é a castanha e à medida que o sal se concentra no fundo, a refracção da luz, o espectro em si muda de tonalidade!








Existem ainda instrumentos específicos na salinicultura, como os rodos para a retirada de sal (é preciso força mas ter cuidado para não vir sal com argila agarrada), uma bóia para medir a salinidade e um coador para a recolha da flor de sal.




E por falar em flor de sal, esta é uma estrutura muito frágil e que precisa de calor, nada de vento, nem humidade e é muito rara (e cara!). Representa 5% da produção, perfaz 10 a 15 toneladas ao ano, muita qualidade (baixa em cloreto de sódio) e deve ser apanhada logo no próprio dia!




O restante da produção- as pirâmides- aglomerados de sal permanecem ao ar livre durante 5 dias. Raspa-se a parte de fora e embala-se o interior directo para consumo, sem demais tratamento ou constituinte. Cerca de 97% dos cristais são sódio!




A principal diferença deste sal (artesanal) com o sal marinho industrial são que neste último, não existem "talhos" e nem divisões, pelo que a recolha do sal é feita com o auxilio de máquinas que para além do sal, retiram também as argilas conjuntamente. Estas além de serem destruídas com químicos, que por sua vez destroem os minerais, o sal seja também irradiado, posteriormente, para ficar branco!


No final da temporada os vários tanques são invadidos de água e deixados ao cuidado da natureza até ao ano seguinte!




E findo a explicação do processo e da visita guiada, fomos depois relaxar naquelas piscinas com elevada salinidade. O hilariante foi mesmo entrar naquele solo mole de argila e tentar equilibrar o corpo ou nadar de bruços (hehe). Depois ainda nos besuntamos de argila e nunca nos vimos tão negras na vida (haha). Infelizmente, sem fotos (mas não queria dar nenhum desgosto a ninguém...haha)!


Neste local, para além das visitas guiadas às salinas, os banhos flutuantes de sais e aplicação de argilas existem, ainda, massagens, aulas de yoga, meditação e compra de produtos com sal (não possui multibanco). Para mais informações consultar: http://www.aguamae.pt/




[O meu agradecimento especial ao senhor Pedro e à Verónica, que me acompanharam nesta visita guiada e ajudaram a escrever este post]!


7 comentários:

  1. Olá, Marta!
    Eu já tinha ouvido falar e até vi fotos dessas salinas.
    Estive para esses lados há pouco tempo, apenas uns meses, e não sabia! De contrário teria lá ido!
    Obrigada pela partilha.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  2. Adorava fazer uma visita destas, deve ser mesmo interessante!
    As fotos estão fantásticas :)

    ResponderEliminar
  3. Super interessante. Merece uma visita!!
    Beijinhos
    elisaumarapariganormal.blogspot.pt

    ResponderEliminar
  4. Obrigada pelos vossos simpáticos comentários e beijinhos a todas!

    ResponderEliminar
  5. r: Muito obrigada!
    Uma ótima semana também para ti :)

    ResponderEliminar
  6. Agora também existem umas piscinas parecidas na cidade de Aveiro.

    ResponderEliminar